Depois da nossa estadia forcada em Cartagena, a moto estava em transito de navio, rumo a Colón, e nós precisaríamos pegar um voo de Cartagena para o Panamá, e aguardar até a próxima segunda feira para ir até Colón e pegar a moto com cinco dias de atraso no nosso planejamento inicial. O voo direto dura 1:20 minutos, assim chegamos a Panamá City , capital do Panamá para uma estadia de 3 dias. 

Da janela do avião dava pra ver o belíssimo mar do Caribe, aquele trecho do Panamá é tão estreito, que o avião entra pelo leste no Atlântico , cruza o pais inteiro em 20 minutos fazendo a curva para o pouso encima no Pacifico, dava para ver o famoso canal do Panamá e a enorme fila de navios, ancorados aguardando sua vez para cruzar o canal em direção oeste leste, eram mais de 50, finalmente pousamos e pegamos um taxi para o hotel, como iriamos ficar 3 dias, elegemos o Hard Rock hotel Megapolis Panamá como residência temporária, eu não tenho o habito de escrever a respeito de hotéis, tem hotel para todos os gostos e preços , mas este é realmente especial, e está entre um dos melhores em que já estivemos, está no centro da cidade, com acesso direto a um shopping e um cassino, com vários bares e restaurantes, e serviço de primeira, o mais importante era estarmos em um legitimo museu do Rock, decorado com várias roupas, instrumentos, e badulaques que pertenceram aos maiores gênios do Pop e do Rock, como, Elvis, U2, Aerosmith, Kiss, Queen, Michael Jackson, Madona, entre muitos outros, o jeito foi trocar o dia pela noite , pois todas elas eram recheadas de atrações nos bares do hotel , foram 3 dias de festa saindo de um show e entrando em outro, espetacular o lugar.

A cidade do Panamá tem um milhão e duzentos mil habitantes, com uma renda per capita de U$16.000,00, foi fundada em 1519, é mais antiga que Washington, Bogotá e Cidade do México. Como Cartagena , também foi muito frequentada por piratas e corsários, pois esta situada no trecho de terra mais estreito entre o oceano Atlântico e o Pacifico, que de carro dista apena 80 Km entre um oceano e outro, usa o Balboa como moeda, mas tudo pode ser comprado e negociado pagando-se em dólar americano.

O pais é riquíssimo culturalmente dado ao fato de sua miscigenação, o Panamá teve sua independência da Colômbia auxiliada pelos EUA, os Espanhóis imaginaram a possibilidade de construir o Canal do Panamá , que foi iniciado pelos Franceses, e construídos em grande parte por Chineses, agora recebe imigrantes fugindo da Venezuela, hoje tem um dos aeroportos mais frequentados das América, é fácil encontrar gente de todos os lugares do mundo.

O Canal do Panamá, tem 77 Km de comprimento, que acabou por encurtarem 20.000 km de trajeto, que antes da sua existência, obrigava os navios a  circundar toda a América do Sul, pelo temido estreito de Beagle, hoje o trajeto pode  ser feito em apenas 10 horas, é uma das 7 maravilhas do mundo moderno, empregou 43 mil trabalhadores, durante a obra morreram 25.000 pessoas , a maioria de Malária, Febre Amarela e acidentes de trabalho, atualmente dá passagem a 15 mil navios por ano, transportando em sua totalidade todo o PIB da China em Mercadorias, estamos falando de 9 Trilhões por ano, estas informações estão muito bem documentadas no museu do Canal do Panamá, que conta em detalhes a magnitude daquela empreitada , também visitamos, Panamá Viejo, Casco Viejo, Biomuseu, Metropolitan Natural Park.

Segunda feira, pagamos setenta dólares para ir de Panamá City a Colón para finalmente pegar a moto, tinha lido alguns relatos, de atrasos na retirada de veículos de até dois dias, então estávamos bastante apreensivos, com essa possibilidade, chegamos antes das 8:00 da manhã,

Vou relatar o procedimento para facilitar a vida dos amigos que queiram fazer este trajeto.

• Primeiro paço , ir a uma agencia seguradora para fazer o seguro obrigatório , que custou U$70,00 dólares , por seis meses, mesmo argumentando que seriam somente alguns dias, sem este seguro não é permitida a retirada de nenhum veículo do porto;

• Pegar um Taxi até o porto e encontrar o escritório do despachante contratado, no nosso caso o Evergreen, o detalhe é que nenhum taxista sabe exatamente onde fica oque , e o porto é imenso, com milhares de escritórios, pois abriga a segunda maior zona franca do mundo só perdendo para a de Hong Kong;

• No escritório da Evergreen, pegar os papeis e pagar U$20,00 de taxas;

• Com os papeis em mãos, ir até a autoridade aduaneira;

• Lá eles vão solicitar três cópias dos documentos, Seguro, Passaporte, Documento da Moto, Carteira de Habilitação, Selo de entrada no Panamá , e uma carta que deve ser redigida em Word e assinada , com o conteúdo solicitando permissão a Santíssima , digníssima, poderosíssima, imaculada senhora delegada de aduana do Panamá, ridículo , mas tive que voltar ao hotel de taxi para fazer a carta e a copia dos papeis, pois não existe nenhuma fotocopiadora por perto, fica a dica para empreendedores que quiserem começar a vida no Panamá;

• Com a carta e as 3 cópias de tudo, retornar ao escritório da Aduana e aguardar que eles redijam uma permissão, para retirada do veículo do porto;

• Com a permissão , retornar ao porto e procurar o oficial de Aduanas que ira providenciar , que separem o container, e a descarga do mesmo, Ha uma taxa de descarga de U$ 120,00 de serviços de estiva, para a moto que veio sozinha no Container, mas a taxa pode variar;

• Ai é só aguardar eles localizarem as pessoas autorizadas a descarregar e abrir o container , um da aduana, um da policia , e o proprietário do veículo, todos devem estar presentes para abrir os lacres, por isso a demora , até encontrar os três;

• Abrir o container verificar se esta tudo correto , e estava;

• Estávamos quase lá, faltava somente mais dois papeis internos, permitindo a saída do porto;

• Por último e fumigação do veículo.

Saímos do porto por volta de 15:00 para carregar a moto e partir rumo norte pela ponte centenária, uma das duas que cruza o canal do Panamá, as estradas estão sendo todas duplicadas, e em ótimo estado, somente um pouco chato ter que ficar parando para os operadores de Pare e Siga , aqueles caras que ficam com a plaquinha na estrada , para permitir o transito em uma só faixa, a estrada rendeu e quando nos demos conta já tínhamos andado 300 Km agora só faltavam 500 para chegar a Jaco Beach na Costa Rica, a dica para esta aduana , é sorriso no rosto, muita cordialidade e muita paciência, muitos no porto gostam de exercer sua autoridade , mesmo não tendo, lembre-se , eles pode atrasar ainda mais sua viagem.

Partimos rumo norte, apesar da Pan americana estar toda em obras de duplicação, a estrada tem varias curvas de alta em aclive e declive, é bem divertida e bonita.

Chegamos a Aduana e o procedimento foi o seguinte , parar na aduana do Panamá , carimbar os passaportes de saída, apresentando a carteira de vacinação contra febre amarela , pela primeira vez nos foi solicitada, passar para verificar as bagagens , tivemos que descarregar a moto esperar averiguação de um oficial da aduana, fazer o procedimento de saída da moto, tudo não demoro mais que 30 minutos, quinhentos metros a frente estava o posto de controle da Costa Rica,  entrar na fila para carimbar o passaporte , ficar atento pois a fila de saída e de entrada são uma do lado da outra eu errei a fila e a senhora já estava carimbando saída no meu passaporte, comprar o seguro da moto, que custou uns U$20,00, fazer 3 copias de todos os documentos , inclusive do carimbo de entrada e do seguro, torcer para não ser horário de almoço porque para tudo por duas horas , eu fui o ultimo a entrar no pais , antes do almoço, por pura sorte.

A Costa Rica tem 4,8 milhões de habitantes, e como quase todos os países da América Central é banhada tanto pelo Oceano Pacifico quanto pelo Atlântico, é sede da Corte Interamericana de Direitos Humanos, uma das democracias mais antigas do mundo, em 1949 extingui as forças armadas do país, e até hoje não tem exercito, ai fiquei pensando , no mundo de hoje ou você tem um exercito gigante capaz de somar forcas aos aliados ou não gaste dinheiro para mante-lo, no caso da Costa Rica , eles transferiram todos os recursos para a educação e saúde , com isso elevaram a expectativa de vida para 78 anos e taxa de analfabetismo , próxima a zero, eles ostentam o Lema “Pura Vida “, e vão ser o primeiro pais do mundo neutro em emissão de carbono, é destino de aposentados do mundo inteiro porque ostenta o titulo de terceiro melhor pais do mundo em qualidade de vida, a educação é compulsória e gratuita, os estudantes quando concluem o decimo terceiro período tem diploma reconhecido em países como Suíça e Estados Unidos, tem diploma reconhecida . Nada mal não é ? 

No meio da tarde chegamos a Jaco Beach, o lugar tem 10.000 habitantes, fica na costa do Pacifico e foi planejada por um milionário Texano, chamado Charles Ewood Jaco, daí o nome da cidadezinha , ele tinha o sonho de construir uma cidade resort, e conseguiu, hoje é frequentada por surfistas de todo o mundo em busca das suas ondas perfeitas, eu é que não podia ficar de fora dessa, aluguei uma prancha por U$10,00 e também arrisquei um pouquinho de surf e também a minha vida nesta empreitada, era praticamente um surfista da família dos Medina, mas que se divertiu mesmo foi a Cris fotografando meus tombos.

A estrada é bastante estreita , e por vezes sem acostamento e muito movimentada, até chegarmos as 10:00 hs da manhã a fronteira entre Costa Rica e Nicarágua, descemos da moto e já fomos cercados por um monte de pessoas que tentam trocar auxilio na hora de fazer a aduana, por algum dinheiro, valendo-se da desorganização que impera nestes lugares , a dica é sofrer um pouco e não aceitar ajuda dos estranhos, dar baixa no passaporte na fronteira da Costa Rica, foi fácil e rápido, ir até a Aduana , fazer uma cópia simples dos documentos da moto , e um permisso de saída, carimbar o papel e apresentar na guarita na saída do pais, andar 1 km até chegar a entrada da Nicarágua, encontrar o oficial da Policia, que faz a verificação dos documentos , comprar um seguro de U$ 25,00 ir até a aduana , não precisa de cópias porque eles fazem por você no próprio guichê, voltar com a permissão, encontrar o oficial da policia, que pode estar em qualquer lugar , neste caso ele estava almoçando em uma barraquinha que servia carne de porco frito com uma espécie de milho cozido, ali mesmo ele assinou o papel nos permitindo que seguíssemos,  andar uns 300 metros até o posto de controle para carimbar os passaportes , preencher uma ficha de entrada no pais , pagar mais U$ 12,00, e ai tudo certo para seguirmos levou 1:30 para fazermos o procedimento.

Estávamos na terra do “ditador” democrata Daniel Ortega, a região ostenta muita pecuária , com solos bem férteis , os sítios são bem cuidados , com as cercas pintadas e tudo impecavelmente limpo e organizado , naquele trecho a estrada tem na sua direita os lagos Managua e Nicarágua e da vista aos vulcões ativos Momotombo e Cocepcion que deixam a paisagem deslumbrante, ai o jeito é parar muito para fotografias, margeando os lagos e os vulcões chegamos a antiga e belíssima Granada, cidade de 100.000 habitantes as margens do lago Cocibolca ou Nicarágua, foi fundada em 1524, “La Gran Sultana”, reflete a arquitetura europeia do período de colônia do reino de Aragão e Andaluz na Espanha, também foi frequentada por Ingleses , Holandeses. No final da tarde partimos rumo a Managua.

Em 1972 a cidade foi devastada por um violentíssimo terremoto, e por dificuldades politicas e ou econômicas até hoje tem poucos prédios,  é bem estranho ver uma capital de 2 milhões da habitantes sem seus característicos arranha-céus, o pais foi berço da revolução Sandinista que faz parte da historia moderna da América Central, entre as Ditadura comunista de Anastácio Somosa e os “Democratas “ Sandinista.

Estávamos preocupados porque Honduras era palco de um recente golpe militar além de não ter a fama de país , amigável com estrangeiros, teríamos que fazer duas aduanas naquele dia se quiséssemos chegar a El Salvador no final da tarde após 500 km. Saímos bem cedo de Managua rumo norte, aquele trecho da Pan- americana é de retas com poucas curvas com bom asfalto, depois de algum tempo de estrada , passamos por uma moto com placa da Malásia,  cheia de bandeirinhas coladas nos baús, gentilmente nos cumprimentamos e eles fizeram sinal para pararmos, Selestet e Zainalb, um casal Malaio que esta a quase três anos na estrada , e já passaram por todos os continentes em países como Camboja, Angola, entre muitos outros , eu nem os conhecia e já eram meus ídolos, principalmente pelo jeito da viagem deles, sem nenhuma pressa, chegam em algum lugar , alugam um B&B e ficam as vezes por meses , em um lugar, moraram no Rio de Janeiro por 40 dias, dizem que é realmente a cidade maravilhosa, eles  estavam indo rumo ao Alasca, e moram em Qualalumpur. Nos despedimos porque diferentemente deles , não tínhamos o tempo disponível e ainda sequer havíamos chegado na primeira Aduana das duas que teríamos que atravessar, mais uma hora de estrada e chegamos. 

O procedimento foi, enfrentar uma fila imensa , estava cheio de pessoas tentando vender o lugar na fila , e ninguém tomava providencias, o jeito foi aguardar com paciência , vendo o povo entrar na sua frente, andar uns 500 metros até um maquina de xerox, para fazer 3 copias de todos os documentos , inclusive o carimbo de entrada, retornar para a Aduana , onde eles vão redigir sua permissão para cruzar o pais. Agora era pé na tabua nos próximos 200 km para atravessar Honduras ainda durante o dia. A estrada bastante ruim com vários buracos e trechos sem pavimentação até chegarmos na outra fronteira, sem nenhum incidente, apenas fomos parados pela policia , que como costume queriam ver a moto mais de perto.

O procedimento de saída foi bem simples , devolver o permisso, e carimbar o passaporte, ai rodamos mais 5 Km até chegar a Aduana de El salvador, um oficial me pediu para preencher as informações da moto e veio até ela para conferir as informações , verificou se o chassi esta ok , e redigiu no computador uma carta permitindo a entrada da moto no pais.

Salvador , assim chamado pelos nativos é o menor pais da América Central com população de 6 milhões de habitantes, passou por uma guerra civil que terminou em 1992 e durou 12 anos, ou seja a maioria dos seus atuais habitantes participou ao menos indiretamente , do conflito , quando não empunhando armas da Frente de Libertação Nacional ou do governo, o conflito ceifou  75.000 vidas, o que lhe deu a alcunha de país mais violento das américas.New Friens !!

Ali estávamos nós chegamos no final da tarde de uma sexta feira véspera de feriado, ou seja , todas as pessoas de San Salvador  estavam na rua , entupindo as vias e se preparando para uma semana de férias, demoramos 2 horas para percorrer 15 km tudo sem GPS, e pra piorar com as coordenadas erradas, ao invés de chegarmos no hotel fomos parar em uma concessionaria da BMW onde eu faria a revisão da moto, ai foi respirar fundo e andar mais um tempo até encontrar o hotel. O trabalho do dia seguinte seria voltar a concessionária , e tentar fazer a revisão da moto sob pena de ter que fazer tudo eu mesmo. Na chegada encontrei o dono da concessionaria esperando um amigo para saírem rumo ao litoral com duas GS iguais a minha, foi pura sorte  telo encontrado ele entendeu meu problema e pediu pessoalmente para as pessoas da oficina que prestassem assistência a minha moto mesmo que tivessem que trabalhar durante a tarde, decidi ficar ali para acompanhar o serviço , meio desconfiado da qualidade, logo percebi um serviço de primeiro mundo , recepção formal da moto , scanner de diagnostico, e  logo identificaram o problema nos freios , me deixando mais tranquilo quanto a capacidade técnica da revendedora.

Estava aguardando na recepção quando entra o Francisco, iniciamos o que eu chamo de conversa de concessionária, todos que vão as agencias no sábado já sabem como é, quando falei estava vindo do Brasil de moto, ele me disse que iria ligar para os motociclistas amigos dele para podermos almoçar juntos, e não parou mais de ligar , eu dizia “calma Francisco” , a final as pessoas tem seus afazeres de sábado, não adiantou, ele não parou até conseguir um almoço que reuniu uns 3 clubes de moto e mais um monte de BMW rides que estavam num tour vindo a Guatemala, umas quarenta pessoas.

Passei para pegar a Cris no hotel e saímos para o restaurante, sentamos ao lado do Nelson, um rapaz de uns 35 anos dono de uma Ducati Multistrada, que já conhecia o Alasca e certamente quase toda a América Central, depois do almoço nos levou para conhecer sua coleção de “Classicas “ , quatro BMW cada uma com nome de mulher , a mais antiga de 1952 e a mais nova de 1971 , era como entrar num museu , só que desta vez eu podia tocar , e até liga-las, é inacreditável a sensação de estar montado em uma maquina que foi o que de melhor havia naquela época, e dispersou sua genética para todas as maquinas modernas inclusive a minha BMW e a Ducati dele, como o motor Boxer , suspenção dianteira telescópica com molas, e traseira com amortecedores hidráulicos só que eram  “reguláveis “ o máximo da tecnologia daquela época, muito obrigado pela oportunidade Nelson. Nossa agenda para o dia seguinte era seguirmos para a Guatemala passando pelo lago Coatepeque, então Nelson sugeriu que fossemos com ele até o lago no dia seguinte para apresentar-nos a alguns outros amigos e passarmos o dia por lá, meio contrariados tivemos que aceitar depois de toda aquela hospitalidade das pessoas.

O Lago Coatepeque , fica localizado dentro da cratera do vulcão com o mesmo nome , Deus ainda colocou uma ilha lá no meio só pra caprichar no visual, muitas Salvadorenhos tem casas de veraneio as margens do lago e na ilha, que só pode ser acessada por barco ou Ferry, passamos o dia comendo , bebendo , e fumando charuto, além de conhecer a família do presidente de El Salvador entre alguma outras personalidades do país,  dentre elas o Roberto , produtor de café com fazendas até no Brasil, no estado do Espirito Santo, Francisco era o financeiro da Porche, André era despachante aduaneiro no Vietnã, Marcia alemã radicada em El Salvador, em busca de qualidade de vida, fiquei impressionado com tanta hospitalidade por parte daqueles desconhecidos e agora amigos, chamou me atenção o conhecimento deles a respeito de geopolítica e a curiosidade sobre os eventos políticos no Brasil.

Saímos em direção norte passamos pela aduana, que foi praticamente carimbar os papeis de saída e cruzar uma ponte e entrar na Guatemala, onde precisamos carimbar os passaportes, fazer a importação da moto desta vez sem cópias e documentos e pagar uma taxa no banco, a agencia fica ao lado da aduana na mesma sala, é necessário pregar um adesivo que informava que éramos turistas e tínhamos permissão para permanecer no pais por 90 dias, caso fossemos parados pela policia local, foi a primeira aduana onde recebemos um monte de panfletos a respeito das atrações turísticas da Guatemala , como Atitlan , Antígua, Cidade de Guatemala e claro , a mistica famosa Tikal.

Chegamos a Antígua no horário do almoço, e saímos para passear e bater algumas fotos, o nome da cidadezinha de 30 mil habitantes, é Antígua Guatemala, por ser a antiga capital e primeira capital do reino de Espanha nas Américas, hoje patrimônio mundial da Unesco, abriga inúmeras igrejas, conventos , prédios antigos, com mais de 500 anos de idade, tudo isso a sombra dos vulcões Água , Catenango e Fogo. Terremotos e Erupções obrigaram o rei de Espanha a mudar a capital para um lugar mais seguro , a uns 50 km de distancia dali, a cidade ficou abandonada por séculos , e só ressurgiu graças ao turismo que hoje é sua principal fonte de renda. A cidade pode ser facilmente visitada a pé, e além da arquitetura desfila pessoas com trajes típicos , mercados de rua e artesanatos, é imperdível , e merece uma visita de pelo menos três dias , dias estes que não nos eram disponíveis.

Ha várias feiras de artesanato em Antigua, e chama muita a atenção as obras feitas em madeira e pintadas com cores vivas e vibrantes, 

Emprestei a máquina , "com o coração na mão "para esta menininha iniciar sua carreira na fotografia, eles fiam maravilhados em ver suas imagens no visor da tela.

Saímos as 5:00 da manha sabendo que teríamos que atravessar a capital assim que subíssemos a serra, ledo engano as 6:00 já estava tomada por carros , e motos e também muitos ônibus, onde o mais novo deve ser de 1500, todos enfeitados por fora apinhados de gente por dentro e com os motores exalando tufos negros de fumaça, e nós, atrás deles a 10 ou 15 km por hora , foi realmente terrível , acho que não tem mais camada de ozônio acima da América Central, mesmo assim fomos pouco a pouco saindo da cidade e logo partimos rumo ao Oceano Atlântico no Noroeste da Guatemala, no inicio do techo eram curvas de alta em aclive , com bastante trechos em reforma e duplicação , depois retas com asfalto bem ruim, cheio de buracos , somado a um calor infernal chegamos a Rio Dulce, para almoçar na mariana que estava lotada de Barcos e Catamarãs de vários lugares do mundo, logo iriamos  descobrir por que eram tantos aportados lá ! Não sabíamos ainda, mas estava se aproximando nosso maior pesadelo nesta viagem o furacão EARL, almoçamos e saímos rumo a Tikal, com os planos de visitar a cidade ainda naquele dia, quando as coisas começaram a dar errado !

Uma chuva torrencial nos interceptou , do nada , parecia que alguém tinha jogado um balde de água do céu encima da moto , era muito estranho , mas tudo bem , estávamos nas floretas da Guatemala, quando chegamos no portão de entrada de Tikal, havia um monte de gente com placas de protesto gritando e interrompendo a entrada das pessoas no parque, parei bem perto do portão, desci da moto, e me afastei um pouco para tentar entender o que estava acontecendo, tinha televisão , jornalistas, manifestantes , negociadores do governo, e ninguém entra e ninguém sai , comecei a repetir internamente o mantra , “resiliência “, e “ não tenho pressa “. O governo deixou de pagar alguns direitos dos funcionários do parque, que decidiu impedir a maior atração turística da Guatemala de funcionar, os turistas viam o piquete , tentavam entrar e eram barrados , nem mesmo os funcionários dos 3 hotéis que ficam dentro do parque não podiam entrar , ficamos umas 3 hora por ali só observando, próximo das 18:00 os turistas já tinham desistido e voltaram para cidade para tentar entrar no outro dia e nós ali, já havíamos feito amizade com os manifestantes que não tinha nada pra fazer a não ser protestar e vinha para perto da moto para perguntar coisas da maquina, quanto custava, quanto corria  etc. Dai tentei minha última cartada , afinal estava ali a 4 horas e iria passar por Guatemala sem conhecer Tikal ? Expliquei que eu era um piloto de teste da BMW , que estava ali , a trabalho, não a turismo , que o meu hotel já estava pago pela empresa, que eu iria somente dormir no parque , e sair bem cedo no dia seguinte, que não tinham mais turistas ali ,e que se me deixassem passar eu não causaria dano algum para a manifestação deles, naquela altura eu já tinha até alguns advogados de defesa no meio daquela multidão, eles foram até o líder para interceder pela minha passagem, e depois de meia hora de entra ou não entra, permitiram nossa entrada no parque.

O hotel estava quase abandonado, tinha uma cozinheira um atendente e um guia , que nos ofereceu o tour das 4 horas da manhã, topamos na hora, porque precisávamos sair bem cedo pois estávamos com a viagem toda atrasada, o Eco Lodge Tikal, encerrava o serviço de quarto as 20:00, e a energia era cortada as 22:00, as 3:30 da manhã o guia bate na porta e pergunta se tínhamos certeza de fazer o tour das quatro? Respondemos que sim , ele perguntou de novo, e respondemos , claro que sim, estava tudo absolutamente escuro , o nosso guia estava completamente bêbado e tinha esquecido a lanterna, ferramenta muito importante pois iriamos fazer uma trilha de uma hora , subir em um  templo Maia no meio da escuridão  e esperar o sol nascer.

Tikal data do século quatro antes de cristo e no seu auge abrigou em suas instalações 200 mil pessoas , ainda no escuro apos fazer a trilha usando o celular da Cris , chegamos a uma escada , o guia resmungou com aquele bafo medonho de cachaça , que deveríamos subir e esperar o sol nascer lá em cima , imagina a aula de historia , as 4 da manhã, no escuro, com o guia fedendo, resmungando e cambaleando, subimos as escadas do templo quatro com 72 metros de altura construído em 720 dc.Durante as 3 horas que permanecemos no topo do templo quatro, o guia deve ter se recuperado do porre , e já estava mais apresentável para prosseguirmos o tour pelas ruinas da belíssima cidade , ai eu fiquei pensando nunca, desde a sua fundação até os dias de hoje aquele lugar recebeu somente 3 pessoas, foi realmente um presente, precedendo os novos acontecimentos que viriam , o furacão estava mais próximo ainda!

O Hotel também estava vazio e fomos servidos no prato pela cozinheira que viu a moto e perguntou para onde estávamos indo ? México respondemos ! e ela perguntou , vocês não estão preocupados com o furacão ? Respondemos , agora estamos, muito preocupados !!! Então ela me disse que tinha uma filha morando em Belize ,e que as autoridades já estavam evacuando as áreas próximas ao litoral para protege-las do furacão EARL, que chegaria a costa em aproximadamente 12 horas e ali onde estávamos ele chegaria em 24 Horas, segundo o centro nacional de furacões de Miami.

Engolimos o café, agora era momento de decidir , se ficar , o furacão nos atinge em 24 horas , se sairmos , iriamos de encontro a ele em 12 horas, o que você faria ? nestas situações eu respeito muito a decisão da Cris , por ser racional e com uma, sempre boa,  dose de medo, que é o freio dos destemidos, ponderamos várias situações , os prós eram baseados em alguns fatos , o primeiro é que  , teríamos que enfrentar o furacão  seja na Guatemala ou no Belize , a moto tem um tanque com 30 litros e autonomia de 450 Km , dependendo do tempo desperdiçado na aduana ainda teríamos uma boa vantagem , a 100 Km/h , estaríamos no México as 18 horas , passaríamos , por Belmopan, e Belize city , que poderiam nos servir de abrigo caso necessário, os contras eram , e se a moto quebrasse, e se não tivesse lugar nos abrigos, nós iriamos de encontro ao furacão. 

A nossa decisão foi seguir, eu imaginei , esse troço deve ter no máximo uns 100 km de diâmetro , e eu com 500 de autonomia vou passar longe dele ainda antes do almoço. Assim saímos de Tikal rumo a divisa com o Belize , trechos de estrada de chão, mesclado com asfalto era bem ruim , mas também , quem vai pro Belize ? chegamos na Aduana , carimbamos passaporte pagamos U$ 10,00 para fumigar a moto, procedimento obrigatório,  andamos 100 metros até a entrada do Belize , quando a oficial de fronteira nos perguntou em um inglês terrível , onde estavam os vistos ? Expliquei a ela que quando entramos em contato com a embaixada no Brasil , eles informaram que não era mais necessário vistos para brasileiros para entrar naquele pais , ela fez sinal para esperarmos e entrou em um escritório que ficava atrás da guarita , e lá ficou, por 10 preciosos minutos , depois voltou e pediu que esperássemos , por meia hora , depois uma hora , depois uma hora e meia, até que fomos chamados para dentro da sala onde um outro oficial nos questionou o que  estávamos indo fazer no Belize , quanto dinheiro estávamos levando , e se pretendíamos imigrar para os estados unidos, respondemos todas as perguntas e ele carimbou nosso passaporte e nos liberou , ai fizemos a importação da moto , que foi bem fácil e rápida, mas já era meio dia , e havíamos perdido quatro horas de tempo preciosíssimo , nossa missão era ir reto até o mar ,virar a esquerda e ir reto até o México, a primeira parte seria a mais difícil.

Todos os carros que encontrávamos estavam indo em direção contrária e invariavelmente davam sinal de luz , como dizendo , “tá indo aonde louco ?’’, e assim foi pelas próximas duas horas, quando chegamos no Atlântico em Belize City, e viramos a esquerda, eu já me dava por vitorioso, e falava pra Cris , “conseguimos “, alguns quilômetros mais a frente , começou a chuva torrencial, depois , sol escaldante , depois chuva quente , igual de chuveiro morno , ai vento forte, e nos lá , eu com os olhos pregados na estrada e de vez em quando a Cris dizia , vi mais um cara fechando as janelas e portas da casa com madeira , e depois , vi um cara tirando uma antena do telhado ,  em teoria já devíamos estar bem longe mas aquela visão era realmente assustadora , somada com a chuva quente que vinha de baixo pra cima, e os ventos que empurravam a moto e depois paravam sem permitir saber quando chegariam novamente. 15:00 hs, 16:00 hs , 17:00 , daquele jeito, quando uma barreira da policia nos parou e disse que não poderíamos mais seguir , ai argumentamos que não tínhamos onde nos abrigar e faltava apenas 50 Km para o México, o guarda nos permitiu a passagem desde que prometêssemos que iriamos dormir em Chetumal , quem iria contrariar aquela ordem? 

Chegamos na Aduana o procedimento foi fácil , mas bloquearam U$ 400,00 no cartão de credito, para permitir a permanência da moto por 6 meses no México, e mais uma taxa de U$ 40,00 por pessoa. Pagamos rápido e fomos procurar um hotel em Chetumal , adivinha ? Tudo lotado ! mas as pessoas dos hotéis auxiliam umas as outras para localizar vagas sabendo da chegada do furacão, perguntei ao atendente se tinha vaga no sub solo pensando na segurança da moto , ele disse “ senhor para a segurança a moto deve ficar  na rua pois o sub solo, vai ficar alagado” ! Não entendo nada de furacão mesmo! Os hotéis iam fechar a portaria as 19:00 , os elevadores ficam desligados , bem como , a luz , e o gás, não há serviço de quarto, ou seja é subir e esperar a tormenta passar ! se falar pros engenheiros da BMW eles não acreditariam mas os baús da moto estavam pela metade de água, todas as nossas roupas também , inclusive dentro das botas “impermeáveis “. O resto da noite foi janela batendo e alarme de carro disparando, estávamos tão cansados que nem deu pra ver muito do evento climático único para nós brasileiros, dizem que no México tem furacão , no chile tem terremoto, no Japão tem tsunami, e no Brasil tem politico corrupto , porque eles escolheram primeiro.

A escolha de Cancun não era um mero desejo de ver as praias do caribe , para nós era um importante ponto de logística para armazenagem , e retorno para casa , pois tem voos diretos todos os sábados e voos diários para Congonhas , com escala em Panamá ou Colômbia e ainda Chile, tornando a logística mais simples e barata.

Agora era necessário Lavar a moto, tirar o combustível , tirar a bateria, encontrar um lugar para deixar a moto, o meu plano era fazer tudo na concessionaria da BMW , encontrar um lugar para deixar a moto , e se não foce na concessionaria poderia ser um hotel ou Self Storage, na realidade o que aconteceu foi totalmente diferente , para nossa sorte, andamos por tudo e nem sequer conseguimos localizar a concessionaria, então paramos em um lava jato para lavar a moto, no caminho encontramos um Self Storage, e por fim da moto cuidei eu mesmo, guardamos limpa e impecável e fomos para o hotel esperar o voo que foi remarcado para o dia seguinte.

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